(O preço de um conto)

O preço de um conto
- © Lenise M. Resende -
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A caçula da família adora receber livros de presente, e é fã da Turma da Mônica. Então, pediu e ganhou, no Dia das Crianças, o novo livro da Turma da Mônica. Enquanto eu escrevia no computador, ela começou a ler uma das histórias em voz alta. Pedi a ela que parasse. E, para sua surpresa, contei-lhe a história que, já li inúmeras vezes na internet, repassada como sendo de autor desconhecido (AD).

"O preço da beleza - Um sujeito está na feira vendendo vasos. Uma mulher se aproxima e olha a mercadoria; algumas peças estão sem qualquer desenho, outras foram decoradas com todo cuidado. A mulher pergunta o preço dos vasos. Para sua surpresa, descobre que todos custam a mesma coisa. – Como o vaso decorado pode custar o mesmo que um simples? – pergunta. – Por que cobrar igual por um trabalho que demorou mais tempo para ser feito? – Sou um artista – responde o vendedor. – Posso cobrar pelo vaso que fiz, mas não posso cobrar pela beleza. A beleza é grátis."

Gosto muito dessa história e, assim como eu, muitos donos de blogs devem gostar. No entanto, por ser de autor desconhecido, não publicamos. Agora, ela aparece recontada, no livro "O gênio e as rosas" de Paulo Coelho e Maurício de Sousa. Na última capa, há uma observação: " ... histórias que têm sido passadas de geração a geração. Paulo Coelho reuniu e reescreveu esses contos..." Nas outras histórias do livro, não sei dizer o que foi reescrito, nesta, intitulada "O preço da beleza", só ouve a troca da palavra "sujeito" por "artesão".

Nas primeiras páginas do livro, há também, a clássica advertência: "... Nenhuma parte dessa edição pode ser utilizada ou reproduzida em qualquer meio ou forma..." Aparentemente, o que era de autor desconhecido, já tem dono. Sendo assim, não sei dizer o que aconteceria, se outro autor também reescrevesse essa história e publicasse. Mesmo que fosse um autor mais criativo e escrevesse: "Um cesteiro está na feira vendendo cestos. Uma mulher se aproxima e olha a mercadoria; algumas peças estão sem qualquer desenho, outras foram decoradas com todo cuidado. A mulher pergunta o preço dos cestos. Para sua surpresa, descobre que todos custam a mesma coisa. – Como o cesto decorado pode custar o mesmo que um simples? – pergunta. – Por que cobrar igual por um trabalho que demorou mais tempo para ser feito? – Sou um artista – responde o vendedor. – Posso cobrar pelo cesto que fiz, mas não posso cobrar pela beleza. A beleza é grátis."

Eu nunca havia lido um livro escrito pelo Paulo Coelho. Os recontos que ele publica nos jornais, já me davam certeza de que eu iria me aborrecer.

A maioria de meus amigos, na internet, são escritores. Já acompanhei muitas campanhas contra a publicação de autor desconhecido. Acompanho a luta de escritores novos e antigos para publicar um livro. Eu estou nessa luta. E posso dizer que a maioria dos escritores paga um alto preço para mostrar sua arte.

Nota - Crônica literária (apresenta aspectos particulares de criação ou crítica literária)

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3 comentários:

José Geraldo Gouvea disse...

Não tenha dúvidas de que essa história "ganhou dono". Talvez Paulo Coelho não se dê ao trabalho de processar quem experimente recontar essa história (ainda não me consta que ele tenha adquirido tamanha desfaçatez, somente a suficiente para se achar escritor publicando o que publica). Ocorre que os leitores dele, que nunca leem notas de rodapé ou avisos em letras miúdas em qualquer lugar do livro, esses vão associar a PC esta história, e vão sempre pensar que o plagiador é quem contou de novo.

Tem gente que acha que Disney inventou a Branca de Neve...

AikiNada disse...

Nunca vi nada de "interessante" nas obras de Paulo Coelho.
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Talvez tenha sido por isso que na minha adolescência, enquanto dezenas de amigos e amigas comentavam sobre a "maravilha" que eram as obras dele, como "O Alquimista", eu ficava quieto, pensando: "Puta merda...".
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E a cada dia acho que ele fica ainda menos interessante...
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Quanto ao "roubo" de ideias. Não há com que se preocupar. Ele pode escrever o que quiser com essas histórias de "autor desconhecido", que nunca será dono delas.
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Só é pena que que sempre haverá gente achando que ele é o autor.

sábado, janeiro 29, 2011

lenise-m-resende disse...

É uma satisfação muito grande ter vocês aqui contribuindo com seus comentários.